quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O romance nas telas de cinema


O Cortiço, em virtude da sua qualidade e relevância para a história da literatura, acabou nas telas do cinema, sob a direção de Francisco Ramalho Jr., com Betty Faria representando Rita Baiana. Aluísio de Azevedo afirmou-se enquanto um escritor
crítico dos costumes sociais da época. A sociedade no estrato da pequena-burguesia, não possuía nenhuma orientação ideológica de classe. E agora? Como está essa situação? Reflita a respeito! O português João Romão explorava os sem-teto da
época, e os fazia devedores infindáveis do dinheiro das mercadorias que compravam em seu armazém. Podemos observar que o romance lido intertextualiza com “Cidade de Deus”, o romance de Paulo Lins e o filme de Fernando Meirelles. O domínio do tráfico de drogas nas favelas da cidade contribui para a manutenção do caos urbano. “Cidade de Deus” é a evolução de “O Cortiço” onde existe um número maior de personagens intensos, e estes explodem numa violência sem fim. Trazendo medo a todas as
camadas da sociedade. Segundo a teoria de Charles Darwin (1809-1882), a
sobrevivência dos organismos depende de sua adaptação ao meio. Serão selecionados para aquele ambiente, portanto, os organismos que se adaptarem melhor. Outro fator destacado por Darwin é a luta pela sobrevivência entre os descendentes, pois embora nasçam muitos indivíduos poucos atingem a maturidade. O número de personagens que perde a vida cedo é ainda maior. “Cidade de Deus” mostra muito bem este aspecto, jovens iniciam sua vida criminosa cada vez mais cedo, assim devido a constante guerra entre traficantes faz dessas crianças, jovens cadáveres. Os indivíduos são determinados através da seleção natural mantendo ou melhorando a adaptação
destes ao meio. Podemos, no entanto, considerar esta teoria da seguinte forma que “Cidade de Deus” é descendente de “O Cortiço”. Fortaleceu-se devido à concentração de caracteres tais como violência e o uso constante de drogas, seja álcool (O Cortiço) seja cocaína (Cidade de Deus). Assim podemos constatar que a seleção natural teorizada por Darwin transformou-se em seleção criminal. Ou seja, os portadores de variações desfavoráveis, ou considerados frágeis, são eliminados pelos portadores de variações favoráveis, ou fortes. Dessa forma, na lei da seleção criminal a força física nem sempre vence na guerra do crime, o mais forte é o mais esperto, aquele que se impõe sobre os outros, amedrontando a comunidade. Outra semelhança encontrada nas obras é a filosofia determinista de Taine. Partindo do princípio de que todo evento tem causa e que, ocorrendo esta causa, o evento acontece invariavelmente. Encontramos tanto em “O Cortiço” quanto em “Cidade de Deus” muitos personagens corrompidos pelo meio. Outros, porém poucos, levaram-se pelo livre-arbítrio como é
o caso de Busca-Pé em “Cidade de Deus” e Piedade em “O Cortiço”. Piedade luta bravamente contra as influências do cortiço, inicialmente consegue, mantém-se ilesa aos vícios e prazeres mundanos. O aspirante a fotógrafo Busca-Pé escapa do círculo
vicioso da contravenção, mostrando uma alternativa virtuosa à guerra que o cerca desde criança. É o garoto vitorioso que não foi corrompido pelo meio, escapando do determinismo e da perspectiva do desalento. Por isso sua vitória parece tão gloriosa,
tão digna de admiração. Outra semelhança entre Busca-Pé e Piedade é o gosto por se entorpecer. O garoto não se rende ao vício como a mulher, embora gostasse de fumar um baseado com seus amigos e sempre dizia aos caretas que a maconha era a luz de sua vida: dava sede, fome e sono! Zé Pequeno luta com armas e cocaína para atingir
seus objetivos, o principal é conseguir a boca-defumo de Cenoura, pois as outras já havia dominado. Nesse delírio de ser o único traficante da Cidade de Deus, Pequeno mostra-nos uma incrível semelhança com João Romão. Falta de escrúpulos somado à
ganância e a uma arma na mão, faz de Pequeno, o maior traficante da Cidade de Deus, respeitado pelos outros e temido por inocentes como Busca-Pé. Tal qual Romão adultera a mercadoria e explora pequenos criminosos, como assaltantes e aviõezinhos. Desde criança mostra-se sangue-frio, principalmente, após a chacina no motel. Devido aos crimes adquire uma visibilidade no meio em que vive digna de um pop star.

Fonte : [ CANDIDO, Antônio. De cortiço a cortiço. In : O discurso e a cidade]






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